segunda-feira, 13 de julho de 2009

O profetismo da Teologia



Aos que escolheram não ser iguais...

A teologia causa medo. Ela traz crises. Dolorosos e férteis conflitos. Para os mais conservadores e fechados à novidade, ela anula a fé simples. Uns dizem: “prefiro a fé simples àquela pregada pelos teólogos”. Enquanto outros do mesmo grupo afirmam: “A teologia deve servir a Igreja, é para essa instituição que ela foi criada”. Desde que entrei nas esteiras do fazer-teológico, escuto, de forma repetida, muitas palavras contrárias ao profetismo da teologia, que se mostra como adversário, contrário ou “fora da visão” de certos modelos e instituições. Diante dessas considerações, nasce a pergunta que procura trazer sinais a essa realidade que levantei: a teologia está a serviço de quem ou de que instituição?


Teologia é antes de tudo hermenêutica, interpretação. Um esforço profundamente humano de compreender a ação e o amor de Deus por meio da realidade. A teologia se mostra, assim, como ato segundo (Gustavo Gutierrez). Ela procura falar sobre a vontade de Deus para o mundo e para a humanidade a partir da vida. Dessa forma, ela procura, sendo hermenêutica, trazer críticas, perguntas e algumas respostas às indagações que são geradas em nossas Igrejas e em nossa sociedade. A vida torna-se o primeiro passo, assim como fez Jesus. Antes das pedras da lei, que matariam a mulher adúltera, existe a vida de quem não tem sentido e estava sendo vítima de uma religião opressora e legalista (João 8). Ao se fazer teologia, não devemos partir de conceitos, embora com eles nos sentimos mais seguros. A vida é o centro! Dessa maneira, a teologia fortalece a fé. Não a fé que deseja ficar presa no monte da transfiguração (Marcos 9) em cabanas para aprisionar e privatizar o sagrado. Uma fé simplória e egoísta. Mas fortalece uma fé movida por uma espiritualidade da descida, que se encarna no mundo, nas planícies, lutando contra os sinais de morte (Marcos 9) e partilhando os pães e os peixes para que ninguém tenha fome (Marcos 6)!


Com estas palavras, volto à pergunta: a teologia está a serviço de quem ou de que instituição? Karl Barth, teólogo alemão, apresenta a tensão existente entre Igreja e Reino de Deus. Aqui está um ponto importante da minha reflexão. O Reino de Deus não é a Igreja! Ela faz parte deste reinado, mas indubitavelmente, o Reino é maior que as nossas estruturas eclesiásticas. A Igreja é um lugar construtor de teologia, mas não tem o monopólio do pensar a fé (ainda bem!). A teologia serve ao Reino de Deus, que está centrado na vida! Esta é a mensagem central do Nazareno, o reinado que se mostra contra a idolatria: do mercado, dos nossos conceitos, das nossas instituições provisórias e falíveis (Barth); reinado que tem como destinatários preferenciais as vítimas, os mais pobres, lutando pela vida justa (Jon Sobrino); reinado que caminha para a nova criação, salvando todo o mundo e a humanidade (Jüngen Moltmann). Sabemos que algumas teologias preferem outras trilhas, mais comerciais. Mas a que caminha pelos passos de Jesus não servirá aos projetos do anti-Reino, não servirá a Igreja enquanto esta instituição caminhar contra a vontade de Deus e contra o evangelho do Cristo... A boa teologia estará a serviço das Instituições quando elas forem porta-voz e testemunha do Reino, visando o bem-estar integral do ser humano e da criação.


A teologia é profética e será contrária a fé que domestica, que iguala (uma produção em série de novos fiéis), que reproduz respostas mofadas para situações novas. Não quero para os meus estudos seguir essa teologia nem esta fé. Elas respondem apenas às necessidades do mercado e de uma sociedade tecnológica, por esses caminhos, seria apenas um teólogo funcional: seguiria o mesmo, defenderia a luta contra o diferente, me basearia só em conceitos, lutaria pelos interesses privados... Mas, prefiro a crise à conformidade. Prefiro ser profeta queimado nas fogueiras da inquisição a ser profeta institucional. Prefiro sentar-me com a samaritana, com as prostitutas, com os que comem e bebem a sentar-me com os saduceus, os donos do templo. Prefiro comer com as mãos sujas e entrar na festa do Reino em Caná a me lavar nas águas da religião, que com Jesus foram transformadas na alegria do vinho. Mesmo que eu afunde por alguns momentos, prefiro uma fé que me lance no mar tempestuoso ao encontro daquele que sigo a ficar no barco seguro... Por fim, prefiro a teologia que caminhe pelo profetismo, pois nela não silenciamos a nossa voz, as nossas idéias, permanecemos na acidez da denúncia e na poética esperança do Reino...

Fonte: Daniel Souza, mais que um amigo, um irmão, companheiro de Caminhada.

2 comentários:

Laguardia disse...
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